Acredito que na vida, nós seres humanos, estamos sempre nos encontrando...no tempo e no espaço, independentemente da cultura, da língua, dos aspectos naturais, da economia e da política, da cor da pele e do tipo de cabelo, do lugar e da hora...estamos sempre nos encontrando.
Hoje, sábado, esse encontro foi no Museu da Escravatura de Luanda...encontrei o lugar de onde saíram muitos dos nossos antepassados...negros angolanos, milhares...muitas correntes, amarras, sofrimento, tráfico, lágrimas, braços, pernas, cabeças, famílias, navios, oceano Atlântico, cultura, fome, doenças... escravidão.
"O estudo do processo de escravização dos povos africanos é essencial para que se compreenda a situação atual de desigualdade no planeta. Revela uma longa história de exploração e subjugação de populações fragilizadas por outras, mais equipadas. Demonstra também que a desestruturação econômica e cultural tem efeitos desastrosos de longa duração.
Do ponto de vista econômico, a escravidão foi uma forma eficiente de acumulação primitiva. No que diz respeito às pessoas foi uma violência irreparável, que pressupõe, dentre outros fatores, a existência de povos muito pobres, mão-de-obra excedente que possa ser explorada em benefício de outros, poucos. Assim, parte do atual contexto socio-econômico da África, de miséria e exclusão, é conseqüência de fatos passados.
A colônia de Angola (cuja especialidade era a exportação de mão-de-obra escrava pelo porto de Luanda) foi alvo de competição entre portugueses e holandeses no séc. XVII e as armas usadas nesse período mais tarde foram aproveitadas para a submissão de populações vizinhas. A disputa entre os colonizadores, vencida pelos portugueses, que a partir de então se lançaram à captura direta de escravos nas chamadas guerras angolanas. Foi dessa forma que Angola se tornou um centro importante de fornecimento de mão-de-obra escrava para o Brasil, onde crescia não apenas a produção de cana-de-açúcar no Nordeste, mas também a exploração de ouro na região central.
Mais que isso. Navios com mercadorias de Goa faziam escala em Luanda lá deixando panos, as chamadas “fazendas de negros”. Dali seguiam para Salvador, na Bahia, carregados de escravos e de outras mercadorias provenientes da Índia (como louças e tecidos)
O Brasil foi um dos protagonistas da escravidão no mundo.
A escravatura foi determinante na conformação das sociedades brasileira e africana. Na África, a exploração da mão-de-obra escrava, primeiro pelos árabes e depois pelos europeus, provocou uma desestruturação de enormes proporções, que ainda não foi superada. Guerras, doenças e pobreza devastam, até os dias atuais, grande parte do continente, cujas riquezas naturais seguem sendo escoadas para os cofres de povos já exageradamente ricos. No Brasil, criou uma situação social injusta, em que as oportunidades ao alcance dos afro-descententes são sempre menores, e menos interessantes, do que as oferecidas aos euro-descendentes e aos originários da Ásia."
Em algum momento a história terá de corrigir seus desvios. Ao longo dos tempos a lógica econômica determinou que houvesse sempre dominadores e dominados, exploradores e explorados, livres e cativos – de maneira explícita ou não. Nesse movimento, os povos africanos perderam sua cultura, sua liberdade, suas riquezas. A história mostra que há pontos de inflexão, em que as transformações se mostram inevitáveis, e ocorrem em processos pacíficos ou por revoluções. No entanto, como afirmou o economista Celso Furtado, "... as observações que vimos de fazer referem-se a simples hipóteses escolhidas em um campo aberto de possibilidades históricas. Por exemplo: é possível que se prolongue por muito tempo a fase de estagnação..." (FURTADO, Celso. Formação Econômica da América Latina. 2a ed. Rio de Janeiro: Lia, 1970 p. 365)
Como foi possível tanta crueldade?
A escravidão foi um dos piores períodos da história da humanidade...Por que escravizar seu semelhante? São muitas as histórias...
sábado, 12 de dezembro de 2009
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